quinta-feira, 9 de julho de 2015

CRIATURAS 08 - Quibungo




Olá queridos leitores, queria começar mais um post do nosso quadro CRIATURAS pedindo desculpas pela ausência nas postagem do blog, tempos difíceis mais que estão passando. Em minha busca incessante por mais conteúdo sobre lobisomens encontrei este ser que veio lá da África, uma das criaturas que as mães de antigamente contavam histórias a respeito dele para seus filhos irem dormir mais cedo. Ele adora crianças, principalmente as mais traquinas, com certeza você já ouviu falar do "Velho do Saco", aquele que era confundido com qualquer senhor que carregasse uma sacola grande na rua, crianças corriam desesperadas para as saias de suas mães. Mas o nosso Velho do Saco tem nome, ele se chama Quibungo e é muito mais aterrorizante do que um senhor de idade com um saco grande.

O Quibungo é um dos personagens mais assustadores do nosso folclore, embora também não seja criação nativa das terras baianas, onde costuma atuar, mas uma adaptação do antiquíssimo Velho do Saco e de outros personagens assemelhados, espalhados por todo o mundo. (O homem do Surrão português parece ser o seu protótipo mais próximo.) É uma espécie de Bicho-Papão negro, um visitante africano inesperado que acabou por se domiciliar na Bahia, onde passou a fazer parte do folclore local. Trata-se de uma variação do Tutu e da Cuca, cuja principal função era disciplinar, pelo medo, as crianças rebeldes e relutantes em dormir cedo.


O Quibungo faz parte dos contos romanceados, sempre com um episódio trágico ou feliz, mas sem data que o localize no tempo. É um Velho do Saco para os meninos, um temível devorador de crianças, especialmente as desobedientes. Sem dúvida um meio eficaz de cobrar disciplina pela imposição do medo.


Não há nenhum testemunho ocular de sua existência, mas, em meio ao universo infantil, existe como concreto. Dentro dessas histórias tradicionais, contadas para as crianças inquietas ou teimosas, ele se arrasta como um fantasma faminto, como um feroz devorador de meninos e meninas que distanciam dos seus pais.

É personagem da literatura oral afro-brasileira, com cruel voracidade, enorme feiúra, brutalidade e inexistente finalidade moral.

Em Alger ou Xangai, e mesmo nos países nórdicos, vivem ainda hoje estes artistas de rua, descendentes indiretos dos Mímicos da antiga Roma nos tempos do império. O Quibungo é um forte aliado dentro dessa literatura onde não existem limites para a imaginação.

No Congo e Angola, Quibungo significa "Lobo". Entre os povos da costa ocidental da África, existiam as hordas de salteadores vindos de outras regiões e que comumente invadiam povoados e aldeias, saqueando tudo; se apossando de mulheres, crianças e demais pertences, e escravizando os homens e os velhos. A este tipo de agressão praticadas pelos grupos invasores eles chamavam de Cumbundo, e a cada indivíduo que faz parte do grupo, Quimbungo que pode ser interpretado como "invasor" ou "invadir", ou "aquele que vem de fora sem ser esperado ou convidado".

De tal sentimento de pavor que sentiam, inspirados pelo Quimbungo invasor, associados à ideia e ao terror próprios do Chibungo, como eram chamados pelos povos negros o Lobo animal, nasceu evidentemente na imaginação popular a concepção dessa entidade estranha - O Kibungo. Os povos Bantus se encarregaram de transmitir às nossas populações do norte e nelas persiste, mesmo após o desaparecimento dos povos em que teve origem.
 
Ao contrário da maioria dos nossos monstros, o Quibungo vive nos campos ao invés de nas matas. Ele é uma mistura de gente e de bicho, pendendo muito mais para o segundo.

Não nos é possível determinar se nas histórias africanas o Quibungo conserva a forma e os hábitos do seu similar baiano. O Quibungo africano não tem um ciclo temático igual ao brasileiro. Aqui ele assumiu o mesmo papel já atribuídos ao Tutu-Marambá, ao Bicho-preto, ao Macaco-saruê, ao Bicho-cumunjarim, ao Dom Maracujá e ao próprio Zumbi que muitas vezes é sinônimo de Saci-Pererê. Do africano herdou a boca vertical, do nariz ao umbigo ou no dorso, assim como já é o nosso Mapinguari. Na Bahia o Quibungo reina e governa em sua missão de assombro aos pequenos.

Esse raptor de moleques, no entanto, não carrega consigo um saco ou o surrão legitimamente lusitano. (uma espécia de bolsa ou sacola de couro) para enfiar as suas vítimas. Ao cuvar-se para apanhá-las, uma fenda enorme abre-se nas suas costas, e é nessa caverna lombar que ele as introduz. O buraco torna a fechar-se naturalmente quando ele espicha-se todo outra vez.

Realmente de meter medo!

Descreve-se normalmente esse ser hediondo como uma espécie de lobisomem ou, mais habitualmente, como um preto velho maltrapilho. É também um feiticeiro, demônio, lobisomem, macacão, preto velho. No fundo continua sempre a ser um ente estranho e canibal, que prefere a carne tenra das crianças.

Felizmente, o Quibungo, diferente das outras criaturas monstruosas, pode ser morto por qualquer homem normal.



Informações complementares


Nomes comuns: Kibungo, Chibungo, Quibungo.

Origem Provável:
A influência africana é determinante, mas não influenciou que se espalhasse por outros Estados do Brasil. Negros escravos Bantus se espalharam por toda parte. Em Pernambuco ficaram muitos. Mas a lenda do Quibungo não acompanhou estes, nem em Sergipe, onde ficaram outros tantos.

A versão brasileira é originária da Bahia. Os aspectos do personagem baiano brasileiro, difere do africano. Serviu a África apenas como fonte de inspiração. Apesar de ter origem entre os povos negros Bantus que migraram para a Bahia, não se espalhou para os demais estados, mesmo diante do grande afluxo desse povo para outras regiões do país.

O Quibungo se tornou baiano, e assim ainda continua. Se fosse de origem africana sem dúvida acompanharia seus habitantes para onde quer que estes se deslocassem, o que não ocorreu no Brasil. Ele não é citado nas histórias nem do Nordeste, nem do Norte. Ele foi importado da África como protótipo, mas reestruturado pelos brasileiros baianos com base nas crenças locais já existentes.

Desse modo, ele herda aspectos do "Velho do Saco", do Lobisomem, etc. A referência à sua boca às costas, mais lembra o próprio Velho do Saco, que literalmente engolia as crianças pelas costas, uma vez que depois de ensacá-las, jogava o surrão sobre seu dorso e ia embora.

O Homem do Surrão ou "Velho do Saco" faz parte de histórias portuguesas e está em quase toda Europa. É um homem velho, esfarrapado, sujo, muito feio, que procura agarrar as crianças vadias ou descuidadas e metê-las num grande saco de couro, de abertura larga, pronta para este fim.

Não se sabe como morrem as crianças. Se o homem as devora ou mata-as pelo prazer de matá-las. Cada criança que o Homem segura é sacudida no surrão que se fecha. Para este movimento é preciso que o Homem baixe a cabeça. Então o surrão abre-se. Presa a criança, fechado o saco, o Homem ergue a cabeça. São as mesmas atitudes do nosso Quibungo com sua suposta imensa bocarra. Pela descrição, a boca do Quibungo é um saco.

No mais, é mito local, trabalho conjunto afro-brasileiro, uma silhueta disforme e negra que caminha, não nas florestas como o Mapinguari, mas nos contos populares como as histórias da carochinha. 
 
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Então  pessoal espero que tenham gostado de conhecer essa criatura, que realmente é bem assustadora! Até a próxima e se vocês tem alguma dica para o próximo post sobre CRIATURAS deixe nos comentários!

Um comentário:

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